terça-feira, outubro 30, 2007
Porém o menino sentia-se terrivelmente só. No seu mundo faltavam outros meninos e meninas e sem meninos nem meninas com quem brincar a vida não tem piada nenhuma! E então, de capacete e escudo em riste, o menino abriu a porta e defendeu-se de todas as armas de arremesso que conseguiu. Porém, julgando-se conhecedor deste novo mundo, o menino baixou as guardas e num dia de sol, foi atingido, cobardemente, nas costas por uma seta que o trespassou. Quando olhou para trás, num esgar, reconheceu um menino alado, ao qual todos os outros chamavam de cupido. O menino sucumbiu sem um "ai" sequer. No último dos seus momentos visualizou o seu mundo perfeito, a sua concha. Não teve tempo para um último pensamento, um balanço da sua vida. Nunca chegou a perceber se o arrependimento de ter saído da concha era ou não maior que a alegria de ter arriscado...
Hoje o menino ainda lá jaz. Transformou-se em pedra para que todos aqueles que maldizem o amor e para os que o defendem possam, largando os seus escudos e os seus capacetes por um momento, reflectir as virtudes e os defeitos do amor.
O menino da história anterior está sentado numa pedra junto a este menino petrificado. E não sabe no que pensar...
segunda-feira, outubro 29, 2007
Me:
should i cut the blue or the red?
God:
What do your friends advise you to do?
Me:
they told me to ask you...
God:
Who are "They?".
Me:
my friends...
God:
What else do they say?
Me:
should I cut the blue or the red?
God:
What do you think?
Me:
i don't know, this is a bomb, i should do something...
God:
Would you like to know? What kind of a bomb you should do something is it?
Me:
i have 30 seconds before it explodes! blue or red?
God:
That's nice. I have a lot of friends on the Internet. Green. What do you have that is red?
Me:
there is no green one! just a blue and a red? which one should I cut?
God:
Has there ever been green one? Are you telling the truth?
Me:
blue or red?
God:
Green. What do you have that is red?
Me:
red or blue?
God:
Ask me another question.
Me:
blue or red?
God:
Green. What do you have that is red?
Me:
fuck, 5 seconds. I'll cut the blue. meet you there!
Cá estou eu outra vez, a partir à descoberta, a esperar que o texto flua...
Não sei se é mais perturbador a ideia dos coelhos a fornicarem ou a escreverem no seu blog...
Que merda, não sai nada hoje...
E será que os coelhos fazem as encomendas de ovos da Páscoa pelo Easter.com?
Bom, podia começar um post com o típico "Era uma vez...", mas isso já está demasiado batido...
Era uma vez um coelhinho que não gostava de ser compreendido. Na verdade não é fácil compreender um coelho, os coelhos não se levam muito a sério...
Podia por um post com algum video dos Ena Pá 2000, o Bacamarte ou assim...
Co eeelhos, Co eeelhos, são às centenas aos milhares!!! O Coelho de Aveiro rima com dinheiro, mas o da Beloura não nega cenoura!
E se eu fosse ao messenger perguntar a alguém o tema do novo post?
Coelhinha_atrevida diz:
Olá coelhão! Tiveste saudades minhas?:)
Coelhão_69 diz:
Pois não! Anda cá que já te digo!
Coelhinha_atrevida diz:
Tarado!:PPP Por acaso já ia, já...
E se eu perguntasse a Deus??
Olá, Deus! Sou eu, o sr.Coelho, da brigada de minas e armadilhas. Corto o vermelho ou a azul?
E se eu escrevesse para a revista Maria??
Olá, eu sou uma coelhinha timida. Todas as minhas coleguinhas já tiveram pelo menos 23 coelhinhos na sua vida, já pariram pelo menos 12 vezes. Porém nenhum coelho quer saber de mim por mim porque tenho posters do "The Coelhoff" no cacifo e ando sempre a cantar o "Hooked on a Feeling"... chamam-me totó, caolha e afins e fogem de mm a quatro patas. Porém no outro dia tive um sonho erótico com o gato da vizinha. Será que estou prenha?
Podia, sei lá, por uma letra de uma música que expressasse o que sinto, por exemplo...
"De olhos vermelhos e pelo branquinho
Orelhas bem grandes, eu sou o coelhinho...
Comi uma cenoura, com casca e tudo
ela era tão grande, fiquei barrigudo!"
Não, nem isso... Bom, que se lixe, logo posto qualquer amanhã...
Espera, não vás! E que tal fazeres um post sobre coelhos...?!
Ao longo dos tempos o homem tentou falar com Deus. Nem todos foram bem sucedidos, e de poucos reza a historia. Moises o mais famoso, e a mae da joana solnado a menos. Cada um à sua maneira foi perguntando coisas, e pedindo outras. Ate mesmo, e porque nao dize-lo, vos, estimados leitores.
Sera que vou ganhar o jogo? Sera que vou passar no teste? Sera que ela gosta de mim? Sera que vou ao grego? sao exemplos de perguntas que certamente algum dia ja perguntaram a Deus, ou a uma entidade superior na esperança de resposta.
Sei que por esta altura pensaram que uma vez mais deu-me a mazinha.. mas nao! Desta vez descobri mesmo a soluçao para todas as perguntas.
http://www.titane.ca/concordia/dfar251/igod/main.html
Se consultarem este site, iGod dar-vos-a as respostas a todas as perguntas que lhe fazem, algures no meio irao ter acesso a uma revelaçao brutal. Basta fazerem umas perguntas.
Que revelaçao é esta?
A minha foi que a viagem é que importa. Chegar é um ponto na frase, sabe bem se estiver a ser longa, sabe mal se for curta demais, mas sabe sempre bem quando se le, e ajuda a contar a historia
;)
RACTOR
Até que um dia conheceu uma menina. Uma menina que era tal e qual como ele. Em tudo, só que formato-menina! Era linda, tinha olhos a-modo-que-esverdeados e um cabelo comprido muito bonito, a cair para o ruivo. Também não gostava de ser compreendida. Também fazia tolices para enganar o mundo e se ria muito. Também se perdia na solidão de não ser, voluntariamente, compreendida. Um dia, esses dois meninos apaixonaram-se um pelo outro. Muito, muito, muito. E todas aquelas histórias dos livros aconteceram, ouviam os passarinhos a cantar, viam estrelas cadentes, enfim, um montão de coisas novas que não vemos quando não temos uma pessoa ao nosso lado a abrir-nos os olhos. (não vemos, mas elas existem!). Durante muito tempo os meninos não mais se preocuparam em não querer serem compreendidos! De que interessava isso, era tão melhor partilhar um amor com uma pessoa especial!!
Mas o tempo passou, passou, passou. Os meninos cresceram. Amavam-se ainda. Cada vez mais. O mundo continuou a girar. Os passarinhos cantavam sim, mas só na Primavera - decidiram os meninos, visto gostarem muito de animais e acharem que os ditos passarinhos ficariam cansados se cantassem para eles o ano inteiro! As estrelas cadentes passaram a aparecer só à noite! (sim, os meninos até de dia as viam! foi tao giro o dia em que eles, de mão dada, interromperam em plena carruagem do metro um beijinho timido-mas-apaixonado quando viram a passar a grande velocidade uma amiga estrela!). O Sol continuava, porém, a brilhar, dentro deles, 24 horas por dia. Mas - traquinas como só os meninos o conseguem (porque sim, eles cresceram mas continuaram meninos. aliás, assim o serão para todo o sempre...) - decidiram voltar, sob forma de hobby, a não quererem por vezes ser compreendidos! E então, quando ninguém esperava, pum! algo radicalmente estranho, algo radicalmente "não o deverias ter feito", algo radicalmente incompreensível! E os meninos riam, riam, riam...
...até que um dia compreenderam que a cada acto desses, o amor deles morria um pouquinho. De cada vez que um deles não entendia o outro, uma pequenina nuvem dentro do coraçãozinho de menino (ou de menina) crescia, e uma pequena chuva desabava dentro de si. E de repente os meninos perceberam que conseguiam magoar o ser que mais amavam e aquele que mais queriam proteger de tudo-o-que-de-mau-existe sempre que se preocupavam com a mania (sim, eu chamo-lhe mania e por certo vocês também chamarão!) mais obscura que dentro de si achavam...
Passaram-se muitos, muitos anos. Os meninos (hoje um homem e uma linda mulher) ainda se amam, se querem saber! Mas ainda não perderam a mania de, a espaços mais curtos que o desejável, de fazer algo radicalmente estranho, algo radicalmente "não o deverias ter feito", algo radicalmente incompreensível. De se tornarem incompreendidos, de se tornarem invisíveis, de magoar o outro.
Talvez esteja na natureza deles, não sei! (os meninos são naturalmente traquinas! que sejam sérios os adultos-por-opção!) Ou talvez não percebam que a cada nuvem que se forma é um pedacinho de sol que se esconde (e o sol é gigante, mas não ínfimo!). Ou talvez ainda não percebam o precioso tesouro que têm nas mãos - o maior deles todos. O tesouro que faz a menina linda da história ir triste para a caminha e o menino, triste, escrever histórias destas, sonhando o dia em que não as sinta, em que não as escreva...
sábado, outubro 27, 2007
sexta-feira, outubro 26, 2007
Hoje foi um dia de merda. A noite foi boa. Acordei com dores nos tomates. E continuaram. Depois abri o correio. E doeram-me ainda mais.A seguir pensei na vida. E doeram mais. Estou farto. De quase tudo. Menos da " segredo" . A dor subiu até a alma.
E sobe, e sobe e sobe. Alem disso a minha avo esta a morrer, e nada consigo fazer para impedir isso, so a ideia faz-me chorar. tento ser forte, mas é dificil. Nem sei o que fazer. Apetecia-me trincar limoes para ter uma desculpa para me sentir mal, mas era capaz de os achar doces demais.
RACTOR
terça-feira, outubro 23, 2007
Eu sei que não é a primeira vez que o faço. Não será também a última por certo. Mas a verdade é que há alturas na minha vida em que só isto faz sentido. Tudo o que eu possa escrever, tudo o que eu possa dizer, tudo o que eu possa sentir...tudo isso está encerrado do inicio ao fim deste texto. (de qualquer modo, a data foi mudada para que não seja este o último post. Felizmente nem todos precisam de um cigarrinho desta Tabacaria...;)
TABACARIA (Álvaro de Campos)
"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa,
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei-de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicómios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora génios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chuva, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistámos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordámos e ele é opaco,
Levantámo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folhas de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, sem rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -,
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei, e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente.
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-te como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olhou-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, e eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?),
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o: é o Esteves sem metafísica.
(O dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o dono da Tabacaria sorriu."
segunda-feira, outubro 22, 2007
Quão belas são as coisas quanto o Artista decide ir além de uma rima de 2 com 2...
Sérgio Godinho
"Às Vezes o Amor"
Ligação Directa (2006)
"Que hei-de eu fazer
Eu tão nova e desamparada
Quando o amor
Me entra de repente
P´la porta da frente
E fica a porta escancarada
Vou-te dizer
A luz começou em frestas
Se fores a ver
Enquanto assim durares
Se fores amada e amares
Dirás sempre palavras destas
P´ra te ter
P´ra que de mim não te zangues
Eu vou-te dar
A pele, o meu cetim
Coração carmesim
As carnes e com elas sangues
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
é cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
E se um dia a razão
Fria e negra do destino
Deitar mão
À porta, à luz aberta
Que te deixe liberta
E do pássaro se ouça o trino
Por te querer
Vou abrir em mim dois espaços
P´ra te dar
Enredo ao folhetim
A flor ao teu jardim
As pernas e com elas braços
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês, é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
Mas se tudo tem fim
Porquê dar a um amor guarida
Mesmo assim
Dá princípio ao começo
Se morreres só te peço
Da morte volta sempre em vida
Às vezes o amor
No calendário, noutro mês é dor,
É cego e surdo e mudo
E o dia tão diário disso tudo
Da morte volta sempre em vida"
Para provar que a música portuguesa está bem e recomenda-se! E com isto encerro o capítulo do "Pequeno t2"!;)
domingo, outubro 21, 2007
sábado, outubro 20, 2007
Hoje dei por mim a pensar no quanto eu falo da vida alheia. Não da vida alheia que eu não conheço ou da vida alheia que conheça ou não, deve ser falada para que as senhoras reformadas tenham alguma coisa para fazer nas manhãs ou nas tardes dos dias da semana - aka tertulia cor-de-rosa e coisas afins...
Refiro-me mesmo à vida alheia mais próxima que eu tenho, a vida dos meus amigos. E mais grave de tudo, não a vida mesma alheia no sentido exacto, o comentar - mesmo que sem malícia - quando essa pessoa não está presente. Refiro-me às longas conversas que tenho com os meus amigos, quando debatemos os 2 os problemas, os sonhos, as ansias dessa pessoa. E refiro-me a todos os conselhos plenos de lucidez que lhes dou. E a sério que eu penso que são os melhores conselhos que alguém lhe pode dar e gosto de sentir que do outro lado o sentimento seja mútuo.
Só que hoje verdadeiramente percebi que eu não tenho autoridade alguma para dizer seja o que for. A sério que não! Eles são meus amigos, sim. Eu conheço-os bastante bem, também! Mas eu não vivo na pele deles, não sinto o que eles sentem. Eu sou um mero espectador. Tudo o que eu diga, faço-o recorrendo apenas à mera e fria razão. - é-o, costumo para mim dizer, o grande motor, eu ser a razão e os outros o sentimento. Mas não, nem assim. Quem sou eu para falar de sacos de plástico que boiam nas águas do Tejo? Em primeiro lugar, eu acho que nunca sequer parei para pensar nos meus sacos de plástico, ou sequer, se tenho algum! Em segundo lugar, que autoridade tenho eu para falar dos sacos de plástico alheios? Para sequer ser digno de poder comparar sonhos alheios, tidos e cumpridos com sacos de plástico? Eu não posso dizer aos restantes, que a vida deles é 1 sucesso ou 1 fracasso, que as linhas a serem seguidas são estas ou aquelas ou aqueloutras. Será por isso que os conselhos que me dão fazem lembrar os votos dos camponeses, porém cidadãos romanos? 1 voto por 250 camponeses, 5 votos por patrício? (sendo eu um patrício, e quem me dá os conselhos, um camponês - matematicamente daria qualquer coisa como, por cada 1500 conselhos que me dão, sigo 1...)
Eu não posso simplesmente continuar a entrar na vida dos outros desta maneira. A falar como se em mim se encerrassem todas as verdades do mundo, esperando que todas as pessoas simplesmente me provem que tenho razão, que me dão razão e que vão seguir todos os meus passos e ditos. Não que eu verdadeiramente queira que alguém siga o que eu digo que deveria ser o caminho a seguir, o melhor...
Não encontro em mim autoridade para dizer "segue o teu sonho" ou "guarda-o na gaveta, cobarde!" Mesmo que mil vezes me apeteça chamar cobarde a quem quer que seja, mil vezes me apeteça abanar essa pessoa, mil vezez me apeteça dizer-lhe que está a fazer merda, merda, merda.
Alguém me ha-de dizer que isso é que é ser amigo. Provavelmente é. Provavelmente todos os meus amigos me abrem as portas para que na vida deles eu entre, não uma intromissão, uma entrada forçada, mas um convite. Mas só hoje, verdadeiramente... só hoje percebi o quão incómodo pode ser convidar alguém para nossa casa e - mesmo que amigo - se sente com os sapatos em cima do nosso sofá, beba do nosso melhor vinho e diga toda a merda que quiser sobre nós, sobre a nossa vida. Mesmo que essas palavras se transformem em asas, as asas que nos façam voar. As asas que nos fazem simplesmente vender a casa, destruir os sofá e as garrafas e sair de casa rumo ao sonho...
Eu não posso provocar esse buliço em alguém. Já basta o enorme encargo de ter um coração, algures, a bater por mim. Eu não posso ser o responsável por um sonho cumprido, mesmo que esse fosse - e seria! - o meu maior objectivo. Não! Obrigar alguém a levantar o rabo do sofá ou o corpo da cama para cumprir um sonho, era heroicamente ridiculo e arriscado.
E não. Eu não quero que ninguém me dedique um óscar. Contento-me em apreciá-lo na vitrina. De preferência sem os pés em cima do sofá, sem a garrafa bebida.
...mesmo que eu saiba que vou continuar a beber garrafas e a sentar-me em sofás alheios para o resto da minha vida. Enquanto me convidarem. Enquanto quiserem que eu dessas casas faça parte... Com o maior dos prazeres. Como se a minha vida disso dependesse...
quinta-feira, outubro 18, 2007
Será que os italianos fazem com o nome Benfica os mesmos trocadilhos que nós portugueses fazemos com o nome do Ancona, clube italiano recém-comprado pelo Vaticano?*
E será que nuestros hermanos sentem arrepios na espinha de cada vez que algum clube espanhol vai jogar a Braga?**
* para quem não sabe italiano (ou pelo menos nao tem o dicionario de calão/termos ordinários de italiano em casa): a palavra formada pelas 4 últimas letras do nome do clube português significa em italiano exactamente o mesmo que a palavra formada pelas 4 últimas letras do nome do clube italiano significa em português!
** se nao sabem o que significa braga em castelhano, o que não falta por aí são turistas da terra dos Filipes. Ficam a uma pergunta de distância de perceber o post na totalidade! E como bónus podem-lhe perguntar de que cor são as deles...;)
quarta-feira, outubro 17, 2007
Tudo começa (e acaba) numa qualquer aula de ciências da natureza do 7º ou 8º ano, numa qualquer sala de aula de uma qualquer escola secundária do país.
A minha professora teve entao, nesse belo dia, a ideia de juntar a turma em grupos e "vamos fazer um trabalho de grupo sobre as DSTs!"
Bom, o pessoal juntou-se então, as tipicas cenas do género
- "entao ficamos, eu, tu, o Zezé e a Mariazinha"
- "não, eu quero fazer com o Jeremias!"
- "ah, mas eu não gosto do Jeremias!"
(ai provavelmente eu terei dito ao meu grupo "Então e o Ractor?" e eles terão olhado para mim com o mesmo ar que hoje olhariam para mim se eu lhes dissesse que tinha uma DST: "deixa lá, isso trata-se!" ou "onde é que tens andado com a cabeça?!")
Bom, os grupos feitos, coube então o sorteio! Estou certo que foi a única altura em que 30 pessoas numa sala tiveram como mais forte desejo 1 papelinho em que dissesse HIV positivo! "Yeah, SIDA!!! In your face!!!"
O meu grupo foi talvez o 4º a ir a sorteio. Das 2 SIDAs, já tinha saído uma, e havia já 1 grupo a coçar-se depois de abrir o presente envenenado: CHATOS!
Calhou-me a mim tirar o papelinho... mão no saco, mistura, mistura, remexe, remexe, e eis que pego no papel que achei que tinha o número (no caso nome...) dourado! Abro lentamente o papel, misto de expectativa, estupidez e muito tempo livre para gastar na puta da vida... CANDIDÍASE! A reacção deve ter sido a mesma que lá tivesse escrito "Guerra da Prussia". Candidíase? Mas isso é o quê?
Dirijo-me para o lugar cabisbaixo, afinal o pessoal tinha confiado em mim. Era minha obrigação trazer mais do que uma mera DST que se curasse com antimicóticos...
"Eh, pá, candidiase?? Entao e agora, não deve haver nada sobre o tema..."
Estavamos todos a maldizer a nossa sorte quando de repente, o grupo ao lado - formado exclusivamente por raparigas - nos perguntam:
"entao que vos saiu?"
"Candidiase..."
"A nós saiu Sifilis. Querem trocar?"
"Sifilis?? O Eldorado das DST da primeira metade do século XX??" pensámos todos... "É para já!!"
Passados uns anos, com outra mentalidade até que as compreendo... Quem raio no seu juizo perfeito não troca sífilis por uma candidiase??
segunda-feira, outubro 15, 2007
Por causa da presença do Ricardo Azevedo no episódio de ontem do Gato Fedorento, passei a manhã com o "Pequeno t2" na cabeça!!! A sala e a cozinha localizavam-se no Occipital, viradas portanto para as traseiras! Um dos quartos era bem no Temporal e tinha uma bela vista, mas o outro era interior porque ficava entre o Temporal e o Parietal. Deve ser o escritório! Mas o que me lixou mesmo foi a casa-de-banho no Esfenóide, que não é assim taaaao longe do nariz...:S
Vá lá que a minha sorte é que o t2 era mesmo pequeno e que só ocupava o hemisfério esquerdo porque senão que tremenda que seria a dor de cabeça que eu teria agora!!
Para os quiserem ter ideia do que é ter um "Pequeno t2" na cabeça e onde os desgraçados se costumam localizar, o wikipedia dá 1 ajudinha...:)
domingo, outubro 14, 2007
Comecemos pela rádio:
O lider de audiência nacional é a simpática RFM. Simpático locutores, simpáticas músicas. Simpáticas músicas. Simpáticas músicas. Simpáticas músicas. Simpáticas músicas. Simpáticas, mas repetitivas músicas! Passam algumas das bandas/interpretes da actualidade. Sim... Não fazem o meu género, mas percebo que façam o género de muita gente - e como "gostos não se discutem (lamentam-se!)", não o farei agora. Mas fazem-no de uma maneira exaustiva, tipo:
Ouvinte tipico e esclarecido da RFM:
8h43 - "olha a nova música do XPTO"
9h17 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira"
10h24 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido"
12h07 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão"
14h44 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados!"
15h51 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda!"
17h22 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda! é mesmo, mesmo gira!"
18h47 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda! é mesmo, mesmo gira! Pera... nova?! Mas esta não é a nova dele, ja passa na rádio há imenso tempo!"
19h14 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda! é mesmo, mesmo gira! Pera... nova?! Mas esta não é a nova dele, ja passa na rádio há imenso tempo!" Outra vez?!"
19h53 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda! é mesmo, mesmo gira! Outra vez?! Já me estou a fartar disto!"
20h31 - "olha a nova música do XPTO. até que é gira. fica no ouvido. ja sei cantarolar o refrão. de olhos fechados! aliás, ja a sei cantarolar toda! é mesmo, mesmo gira! Outra vez?! Já me estou a fartar disto! Afinal não é nada gira, já não a posso ouvir!!"
20h55 - "arrrrggghhhhhh!!! estou farto do XPTO e da sua música!!"
A RFM teve - pelo menos em mim - um estranho condão: há 1ns anos quando a ouvia (quanto pequei, meu Deus!) nela encontrei e perdi algumas das minhas músicas preferidas. Tal como o ouvinte em cima, em pouco tempo passei do "epah, é mesmo gira!" para "arrrggghhh, já não posso ouvir mais isto!!". E o engraçado é que já passaram alguns anos e quando, das poucas vezes tenho ouvido RFM (sim, porque no carro dos outros não posso mandar no rádio, snif...), descubro que essas músicas que tinha-descoberto-e-me-fartado-em-pouco-tempo ainda passam!!
O deixar de ouvir a RFM mudou, então, o meu vocabulário: passei de um: "sabes aquela música que está sempre a passar na RFM?" para um "sabes aquela música que de vez em quando passa na Radar?" Sempre a aprender!
Serve a RFM como introdução à TVI. O lider de audiências televisivo tem feito algo meritório nas suas novelas: pegado em algumas das músicas portuguesas mais conhecidas e colocado-as no seu genérico! Está porém a fazer um processo muito análogo ao da RFM. (re)Lança as músicas, o pessoal adere rapidamente e ainda mais rapidamente se farta dela! Resultado: no final da novela, as músicas estarão duplamente guardadas na gaveta! Mais! Baptiza o nome das ditas novelas com o título das referidas canções! Pessoalmente não concordo com este último facto. A novela tem 1 identidade própria. A canção do genérico tem 1 identidade própria. Podem até ser parecidas. Mas nuuuunca iguais! Era a mesma coisa que uma banda pegar num quadro de um pintor conhecido, coloca-lo na capa do seu album e chamar ao album o nome do dito quadro.
Corriamos o risco de ter os seguintes albuns:
Arcade Fire "Doze Girassóis numa Jarra"
Lucianno Pavarotti (obra póstuma) "O Grito"
Rod Stewart "Quando te Casas?"
Stone Roses "Full Fathom Five" (por acaso os Stone Roses têm 1 música com este título)
ou porque não (e já que ela, pelos vistos, canta...)
Paris Hilton "Maja Desnuda"
Julgo que esta estratégia da TVI músicas-conhecidas-nos-genéricos está a funcionar em grande, pois há anos e anos que é repetida. No entanto, notam-se pequenas nuances, como o actual facto de o canal estar a apostar em músicas com nomes que permitem certas pouco-ingénuas piadas, quem sabe em busca de nova clientela: dar a uma novela o nome de "Deixa-me Amar", que lido rapidamente se transforma em "Deixa Mamar" parece ser tudo menos inocente!! Que virá a seguir?? Ir buscar áquele grande manancial chamado Saul Ricardo temas como "O Bacalhau Quer Alho" ou "O Mofo Deu-Lhe" para baptizar as próximas novelas?? Ou mesmo a utilização de outro grande clássico da música popular portuguesa, do não menor Quim Gouveia, "Um Garfo Destes"...
A ver vamos...
sábado, outubro 13, 2007
Deixo aqui o video da minha musica preferida, aquela que mais tenho ouvido nas últimas semanas da minha longa lista de mp3.
"Head On"
Aproveito também para deixar o mais recente single de uma das minhas bandas preferidas da actualidade, VHS or Beta. "Can't Believe a Single Word" do album "Bring on the Comets", editado em Agosto último. Soa muito, muito bem!:)
segunda-feira, outubro 08, 2007
sábado, outubro 06, 2007
sexta-feira, outubro 05, 2007
Declarao publica.
Declaro pois aqui, para quem quiser ler, que :
Tenho serias duvidas se serei de todo actor algum dia
Tenho muitos mais medos do que parece
Estou cheio de defeitos
E estou a anos luz de enquadrar em algum perfil,
Declaro tambem que as vezes nao faço ideia para onde vou
E que a maior parte tenho receio do que quer que seja novo.
Pronto la se foi a mistica, aos estimados leitores, o vosso muito obrigado por tantas leituras.
John da silva- porra, claro que sou eu ne...