"E foi então que apareceu a raposa:
- Bom dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho que se voltou mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.
Tu és bem bonita.
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o princípe, estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.
Não me cativaram ainda.
- Ah! Desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- O que quer dizer cativar?
- Tu não és daqui, disse a raposa. Que procuras?
- Procuro amigos, disse. Que quer dizer cativar?
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.
Significa criar laços...
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.
E eu não tenho necessidade de ti.
E tu não tens necessidade de mim.
Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo... Mas a raposa voltou a sua ideia:
- A Minha vida é monótona. E por isso eu aborreço-me um pouco. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei o barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros me fazem entrar debaixo da terra. O teu chamar-me-á para fora como música.
E depois, olha! Vês, lá longe, o campo de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelo cor de ouro. E então serás maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo que é dourado fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento do trigo...
A raposa então calou-se e considerou muito tempo o príncipe:
- Por favor, cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principe, mas eu não tenho tempo. Tenho amigos a descobrir e mundos a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não tem tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres uma amiga, cativa-me!
Os homens esqueceram a verdade, disse a raposa.
Mas tu não a deves esquecer.
Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas"
terça-feira, março 13, 2012
O Macaquinho. Que não vê. Que não ouve. Que não fala.
Ao longo da vida fazemos acordos tácitos. Com o mundo, com os outros, com nós próprios. Calamos coisas por amor. Por amizade. Por educação. Deixamos os outros viverem as suas próprias vidas só porque achamos que eles têm direito a isso, que não é nada connosco, que temos o dever de os deixar viver como querem. Atiramos para o ar um “quem em boa cama fizer, nela se deitará”, jogamos as mãos para o fundo dos bolsos e assobiamos a nossa alegria por levarmos uma vida infinitamente diferente. No Natal um bom vinho ou um saca-rolhas em prata mostrará a nossa amizade e a gratidão dos demais por sermos homens adultos, daqueles que calam e consentem. Um acordo tácito lacrado com um pingo de tinto no papel timbrado que envolve o queijo amanteigado de boa qualidade!
Por vezes a ideia assalta-nos, dá-nos suores frios de noite, como se de um pesadelo bem real se tratasse. Um grito que nos ecoa na mente, um “não faças!” ou um “não vás!” ou mesmo um mais radical “deixa-a ir!”. Uma mão que realmente agarra um braço, um dedo que mostra um caminho, uma conversa que suaviza almas atormentadas (o tal “all in às coisas boas da vida”). Às vezes sonho de noite, e sonhando concretizo-o. Ajo. Em vez de ficar calado a negar a minha pacatez noturna quando no fundo do meu ser quero explodir e alguém que venha limpar os destroços e montar tudo de novo! Sigo calado. E sei que um dia alguém me recriminará por não ter falado a tempo, ainda que esse alguém nunca tenha criado minimamente as condições para que esse passo não seja dado em falso. Um alguém que está demasiado iludido com um espetáculo bacoco de luz e cor, um alguém que está demasiado sequioso de aprovação, um alguém que na maioria das vezes não está minimamente disponível para ouvir uma opinião diferente porque a sua vida depende quase literalmente do “sim” que os demais continuam a dar. E então vou-me calando, reservado ao fundo do banco de um carro que me leva para caminhos em tempos tão comuns que se tornaram subitamente tão desconhecidos como uma nova estrada que se faz a medo. Um passado que se deixa para trás, um futuro que não desejo mas que me impõem. Um jogo que se deixa a meio, uma água dentro de um copo que vibra a cada novo pequeno terramoto. Uma tempestade num copo de água. Um farewell-até-à-próxima que não se diz porque nada à volta importa. E o nada à volta também não se importa com o farewell-até-à-próxima que não se diz. Porque nada mais importa, porque o campo está demasiado seco depois de um inverno onde do céu caiu menos água do que aquela que ficou propositadamente esquecida dentro do copo de água. E porque só uma chuva torrencial que varra todo o mal pode voltar a dar à cidade o ar limpo que em tempos teve. E ao campo o tom verdejante pelo qual apetece correr rumo ao infinito. E a cada novo copo de água juro a mim próprio que no dia seguinte abrirei uma brecha no solo capaz de engolir civilizações, que serei responsável pela queda de qualquer império romano dos tempos modernos, ao ponto de, envergonhado, o sol passar a nascer no frio Alaska e se por na quente Pérsia. Via Lisboa. E no dia seguinte tomará o caminho inverso, dando e tirando mundos ao mundo. Até lá, metaforizo em letras o que a minha boca não ousa dizer. Por amizade. Por educação.
E os charutos continuam semi-esquecidos no fundo do bolso do casaco à espera de melhores dias.
Ao longo da vida fazemos acordos tácitos. Com o mundo, com os outros, com nós próprios. Calamos coisas por amor. Por amizade. Por educação. Deixamos os outros viverem as suas próprias vidas só porque achamos que eles têm direito a isso, que não é nada connosco, que temos o dever de os deixar viver como querem. Atiramos para o ar um “quem em boa cama fizer, nela se deitará”, jogamos as mãos para o fundo dos bolsos e assobiamos a nossa alegria por levarmos uma vida infinitamente diferente. No Natal um bom vinho ou um saca-rolhas em prata mostrará a nossa amizade e a gratidão dos demais por sermos homens adultos, daqueles que calam e consentem. Um acordo tácito lacrado com um pingo de tinto no papel timbrado que envolve o queijo amanteigado de boa qualidade!
Por vezes a ideia assalta-nos, dá-nos suores frios de noite, como se de um pesadelo bem real se tratasse. Um grito que nos ecoa na mente, um “não faças!” ou um “não vás!” ou mesmo um mais radical “deixa-a ir!”. Uma mão que realmente agarra um braço, um dedo que mostra um caminho, uma conversa que suaviza almas atormentadas (o tal “all in às coisas boas da vida”). Às vezes sonho de noite, e sonhando concretizo-o. Ajo. Em vez de ficar calado a negar a minha pacatez noturna quando no fundo do meu ser quero explodir e alguém que venha limpar os destroços e montar tudo de novo! Sigo calado. E sei que um dia alguém me recriminará por não ter falado a tempo, ainda que esse alguém nunca tenha criado minimamente as condições para que esse passo não seja dado em falso. Um alguém que está demasiado iludido com um espetáculo bacoco de luz e cor, um alguém que está demasiado sequioso de aprovação, um alguém que na maioria das vezes não está minimamente disponível para ouvir uma opinião diferente porque a sua vida depende quase literalmente do “sim” que os demais continuam a dar. E então vou-me calando, reservado ao fundo do banco de um carro que me leva para caminhos em tempos tão comuns que se tornaram subitamente tão desconhecidos como uma nova estrada que se faz a medo. Um passado que se deixa para trás, um futuro que não desejo mas que me impõem. Um jogo que se deixa a meio, uma água dentro de um copo que vibra a cada novo pequeno terramoto. Uma tempestade num copo de água. Um farewell-até-à-próxima que não se diz porque nada à volta importa. E o nada à volta também não se importa com o farewell-até-à-próxima que não se diz. Porque nada mais importa, porque o campo está demasiado seco depois de um inverno onde do céu caiu menos água do que aquela que ficou propositadamente esquecida dentro do copo de água. E porque só uma chuva torrencial que varra todo o mal pode voltar a dar à cidade o ar limpo que em tempos teve. E ao campo o tom verdejante pelo qual apetece correr rumo ao infinito. E a cada novo copo de água juro a mim próprio que no dia seguinte abrirei uma brecha no solo capaz de engolir civilizações, que serei responsável pela queda de qualquer império romano dos tempos modernos, ao ponto de, envergonhado, o sol passar a nascer no frio Alaska e se por na quente Pérsia. Via Lisboa. E no dia seguinte tomará o caminho inverso, dando e tirando mundos ao mundo. Até lá, metaforizo em letras o que a minha boca não ousa dizer. Por amizade. Por educação.
E os charutos continuam semi-esquecidos no fundo do bolso do casaco à espera de melhores dias.
sexta-feira, março 09, 2012
The Ark "It Takes a Fool to Remain Sane"
"Whatever happened to the funky race?
A generation lost in pace
Wasn't life supposed to be more than this?
In this kiss, I'll change your bore for my bliss
Let go of my hand and it will slip out
In the sand if you don't give me the chance
To break down the walls of attitude
I ask nothing of you
Not even your gratitude
And if you think I'm corny
Then it will not make me sorry
It's your right to laugh at me
And in turn, that's my opportunity
To feel brave
Because ridicule is no shame
Oh it's just a way to eclipse hate
It's just a way to put my back straight
Oh it's just a way to remain sane
Every morning I would see her getting off the bus
The picture never drops it's like a multicoloured snapshot
Stuck in my brain it kept me sane
For a couple of years as it drenched my fears
Of becoming like the others
Who become unhappy mothers
And fathers of unhappy kids
And why is that?
'Cause they've forgotten how to play
Or maybe they're afraid to feel ashamed
To seem strange, to seem insane
To gain weight, to seem gay
I tell you this:
That it takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh In this world all covered up in shame..."
"Whatever happened to the funky race?
A generation lost in pace
Wasn't life supposed to be more than this?
In this kiss, I'll change your bore for my bliss
Let go of my hand and it will slip out
In the sand if you don't give me the chance
To break down the walls of attitude
I ask nothing of you
Not even your gratitude
And if you think I'm corny
Then it will not make me sorry
It's your right to laugh at me
And in turn, that's my opportunity
To feel brave
Because ridicule is no shame
Oh it's just a way to eclipse hate
It's just a way to put my back straight
Oh it's just a way to remain sane
Every morning I would see her getting off the bus
The picture never drops it's like a multicoloured snapshot
Stuck in my brain it kept me sane
For a couple of years as it drenched my fears
Of becoming like the others
Who become unhappy mothers
And fathers of unhappy kids
And why is that?
'Cause they've forgotten how to play
Or maybe they're afraid to feel ashamed
To seem strange, to seem insane
To gain weight, to seem gay
I tell you this:
That it takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh In this world all covered up in shame..."
terça-feira, fevereiro 28, 2012
Campo Minado Cão Raivoso
Escrever metáforas em jeito de conversa. Esperar que alguém as leia. Cada linha, um objetivo. Cada frase, um significado. Cada texto, uma direção. Voltar atrás não é opção, bem o sei. O caminho em diante é um campo minado, cada passo uma incógnita, cada dia uma nova aventura. O telefone que toca. O telefone que não toca. As horas que passam, os dias que crescem, o sol que brilha. Em tempos já estaria fora daqui, num outro qualquer lugar, numa praia invernal, de casaco e camisola. Hoje encerro-me voluntariamente. Entre quatro paredes agarrado a memórias. Rasgando memórias, celebrando memórias. Pedaços de vida passados, pedaços de vida perdidos. Corridas estrada fora, promessas cumpridas e enterradas. Anos que foram. Que passaram. Que se perderam. Não voltam mais. Às vezes digo que vou em frente. Que é possível viver assim. E que hoje tenho muito mais do que tinha naquela altura. Mais pontos cardeais, mais opções, mais caminhos por onde ir e voltar. Mais pessoas. Mais amigos. Mais momentos vividos. Mais noitadas. Mais passeios. Mais diversão. Mais. Porém olho em volta e tenho menos uma janela. O sol entra menos, não vejo tanto além. A vista perdeu-se, a luz já não me permite ler. O dia desvaneceu-se um pouco e nem por isso estou triste. Como um cão raivoso, acossado, caminho freneticamente dentro do cubículo onde cumpro o meu exílio. Jogo murros para o ar, adversário invisível mas que me conhece demasiado bem. Sabe onde bater, sabe onde mais dói. Sabe como me derrotar, sabe como me ultrapassar. Por vezes pergunto-me se não é cedo para desistir. Se não é cedo para atirar a branca toalha ao chão. Mesmo que esteja suja, vermelha de tanto sangue derramado. Afinal nenhum adversário é imbatível, nem mesmo aquele que não se vê, que não se deixa combater. Que cobardemente manobra, a coberto da escuridão. Talvez devesse entrar no cenário de guerra e resgatar-te, qual soldado ferido. Arriscando demasiado, arriscando tudo. Talvez morrêssemos os dois a caminho de algum sítio seguro. Mas seguramente morreríamos a tentar...
get out.
or let me get in.
Escrever metáforas em jeito de conversa. Esperar que alguém as leia. Cada linha, um objetivo. Cada frase, um significado. Cada texto, uma direção. Voltar atrás não é opção, bem o sei. O caminho em diante é um campo minado, cada passo uma incógnita, cada dia uma nova aventura. O telefone que toca. O telefone que não toca. As horas que passam, os dias que crescem, o sol que brilha. Em tempos já estaria fora daqui, num outro qualquer lugar, numa praia invernal, de casaco e camisola. Hoje encerro-me voluntariamente. Entre quatro paredes agarrado a memórias. Rasgando memórias, celebrando memórias. Pedaços de vida passados, pedaços de vida perdidos. Corridas estrada fora, promessas cumpridas e enterradas. Anos que foram. Que passaram. Que se perderam. Não voltam mais. Às vezes digo que vou em frente. Que é possível viver assim. E que hoje tenho muito mais do que tinha naquela altura. Mais pontos cardeais, mais opções, mais caminhos por onde ir e voltar. Mais pessoas. Mais amigos. Mais momentos vividos. Mais noitadas. Mais passeios. Mais diversão. Mais. Porém olho em volta e tenho menos uma janela. O sol entra menos, não vejo tanto além. A vista perdeu-se, a luz já não me permite ler. O dia desvaneceu-se um pouco e nem por isso estou triste. Como um cão raivoso, acossado, caminho freneticamente dentro do cubículo onde cumpro o meu exílio. Jogo murros para o ar, adversário invisível mas que me conhece demasiado bem. Sabe onde bater, sabe onde mais dói. Sabe como me derrotar, sabe como me ultrapassar. Por vezes pergunto-me se não é cedo para desistir. Se não é cedo para atirar a branca toalha ao chão. Mesmo que esteja suja, vermelha de tanto sangue derramado. Afinal nenhum adversário é imbatível, nem mesmo aquele que não se vê, que não se deixa combater. Que cobardemente manobra, a coberto da escuridão. Talvez devesse entrar no cenário de guerra e resgatar-te, qual soldado ferido. Arriscando demasiado, arriscando tudo. Talvez morrêssemos os dois a caminho de algum sítio seguro. Mas seguramente morreríamos a tentar...
get out.
or let me get in.
segunda-feira, fevereiro 27, 2012
Citizen Kane
“Why did they make birds so delicate and fine as those sea swallows when the ocean can be so cruel?“
Um gajo rico que morreu agarrando um dos globos de neve da sua coleção (o primeiro?), desejando trocar todo e cada cêntimo da sua fortuna por um regresso à vida feliz que um dia teve e abdicou. Bem antes de riquezas, ilusões e toda a solidão que daí adveio. Como um daqueles balões que inadvertidamente fugiu da mão de uma criança e subiu rumo à termosfera!. Em qualquer momento do seu caminho, definhará, rebentará. Nesse momento tudo o que pode desejar é que o solo onde cairá seja tão suave quanto possível. Mas de tão longe que foi, esse solo não será mais aquele que conheceu, em dias dourados. Será outro, mais duro, mais impessoal. Que por não o conhecer, não o amparará. Será duro e cinzento como qualquer laje de cimento.
O Citizen Cane é a metáfora do Rei Midas que o século XX criou. Ciclicamente os homens têm necessidade de criar histórias (I mean, estórias...) para se manterem atentos, vigilantes. O mais vendido livro de todos os tempos, não é mais do que uma compilação de histórias que, em prol de uma determinada religião e dos seus valores, nos ensinam a seguir por uma determinada direção. A pensar e viver a vida segundo metáforas que nos fazem pensar; que se adequam à nossa vida e (quase) todo e qualquer passo que vamos dando ao longo do nosso caminho. Ao ponto de a própria legião de ateus, agnósticos e professantes de outras religiões reconhecerem o enorme valor das escrituras nele constantes. Outro tipo de estórias se prefigura neste capítulo-metafórico: infantis; a história dos três porquinhos ensina-nos que a preguiça não compensa. A da formiga e a cigarra, idem, ensinando-nos o valor do trabalho. Muitas outras histórias ensinam-nos, enquanto crianças, a ser prudentes, corajosos a confiar cegamente nos nossos pais (sábios patronos da nossa vida), em evitar as ilusórias promessas de lucro fácil, o valor da amizade... Enfim, quase toda uma panóplia de normas e valores morais que as crianças necessitam de interiorizar para se tornarem adultos decentes, bons homens e mulheres. A maioria desses contos tendem – à luz de um olhar adulto – a roçar o violento. Para as crianças tudo é normal, são apenas estórias. E tal como não estão cientes da violência encerrada naquelas palavras, creio que não estão sequer conscientes da mensagem principal que nelas se esconde, que há algo invisível para além do que os olhos e ouvidos podem captar. Porém os valores entram e ficam. Depois logo se vê o que, chegadas a adulto, farão com tais ensinamentos! Se pregam aos peixes ou se os comem! Em última análise, diria que qualquer Citizen Cane desta vida leu essas histórias, contaram-nas em pequeno, do lado de fora dos lençóis que os separavam do desconhecido que se escondia na penumbra da noite. E qualquer Citizen Cane desta vida interiorizou os valores advindos dessas estórias. Depois cresceram. Fisicamente. E acharam que crescer, mais do que um corpo que se desenvolve, é evoluir. Querer mais e melhor. Mas como o balão que quer subir, conheceram novos mundos e algures pelo caminho perderam a noção de que pertencem à mão da criança que os escolheu, que os resgatou do impessoal carrinho vendedor, onde são iguais a todos os outros balões. A criança, a única que dele verdadeiramente gostou, que verdadeiramente o apreciou enquanto balão, a única que o distinguiu de todos os outros balões a si (aparentemente) iguais. A criança que com ele cresceu é a única que continua a olhar para o ar em busca do seu balão que a trocou por um caminho up there, rumo ao desconhecido, à natureza, cujos elementos, por muito belos que possam parecer, são ilusórios e cruéis. O ar quente e tranquilo que junto ao solo o elevou, tornou-se frio conforme o balão subiu. Gélido. Frios e cortantes cristais formaram-se em torno do balão a partir de alguns milhares de pés de altitude, adormecendo-lhe os sentidos, fazendo-o sentir uma dormência insuportável, toldando-lhe visão e mente! Não que um balão respire, mas se quisesse, a rarefação do ar tornaria essa missão impossível. E as radiações solares rapidamente despedaçariam o pobre balão em pedaços. E em vez de um trenó, a última palavra do balão será o nome da criança. Uma Rosebud humana dos tempos modernos; demasiado leal para não desistir da sua demanda; demasiado realista para saber que jamais tornará a ver o seu balão vermelho; demasiado assustada para compreender...
E os globos de neve cair-lhe-ão da mão. Um por outro. Cidade a cidade. Memória a memória. Pessoa a pessoa. Sobrará apenas a cama vazia onde se deitou para morrer.
Lá fora o mundo segue. Indiferente.
“Why did they make birds so delicate and fine as those sea swallows when the ocean can be so cruel?“
Um gajo rico que morreu agarrando um dos globos de neve da sua coleção (o primeiro?), desejando trocar todo e cada cêntimo da sua fortuna por um regresso à vida feliz que um dia teve e abdicou. Bem antes de riquezas, ilusões e toda a solidão que daí adveio. Como um daqueles balões que inadvertidamente fugiu da mão de uma criança e subiu rumo à termosfera!. Em qualquer momento do seu caminho, definhará, rebentará. Nesse momento tudo o que pode desejar é que o solo onde cairá seja tão suave quanto possível. Mas de tão longe que foi, esse solo não será mais aquele que conheceu, em dias dourados. Será outro, mais duro, mais impessoal. Que por não o conhecer, não o amparará. Será duro e cinzento como qualquer laje de cimento.
O Citizen Cane é a metáfora do Rei Midas que o século XX criou. Ciclicamente os homens têm necessidade de criar histórias (I mean, estórias...) para se manterem atentos, vigilantes. O mais vendido livro de todos os tempos, não é mais do que uma compilação de histórias que, em prol de uma determinada religião e dos seus valores, nos ensinam a seguir por uma determinada direção. A pensar e viver a vida segundo metáforas que nos fazem pensar; que se adequam à nossa vida e (quase) todo e qualquer passo que vamos dando ao longo do nosso caminho. Ao ponto de a própria legião de ateus, agnósticos e professantes de outras religiões reconhecerem o enorme valor das escrituras nele constantes. Outro tipo de estórias se prefigura neste capítulo-metafórico: infantis; a história dos três porquinhos ensina-nos que a preguiça não compensa. A da formiga e a cigarra, idem, ensinando-nos o valor do trabalho. Muitas outras histórias ensinam-nos, enquanto crianças, a ser prudentes, corajosos a confiar cegamente nos nossos pais (sábios patronos da nossa vida), em evitar as ilusórias promessas de lucro fácil, o valor da amizade... Enfim, quase toda uma panóplia de normas e valores morais que as crianças necessitam de interiorizar para se tornarem adultos decentes, bons homens e mulheres. A maioria desses contos tendem – à luz de um olhar adulto – a roçar o violento. Para as crianças tudo é normal, são apenas estórias. E tal como não estão cientes da violência encerrada naquelas palavras, creio que não estão sequer conscientes da mensagem principal que nelas se esconde, que há algo invisível para além do que os olhos e ouvidos podem captar. Porém os valores entram e ficam. Depois logo se vê o que, chegadas a adulto, farão com tais ensinamentos! Se pregam aos peixes ou se os comem! Em última análise, diria que qualquer Citizen Cane desta vida leu essas histórias, contaram-nas em pequeno, do lado de fora dos lençóis que os separavam do desconhecido que se escondia na penumbra da noite. E qualquer Citizen Cane desta vida interiorizou os valores advindos dessas estórias. Depois cresceram. Fisicamente. E acharam que crescer, mais do que um corpo que se desenvolve, é evoluir. Querer mais e melhor. Mas como o balão que quer subir, conheceram novos mundos e algures pelo caminho perderam a noção de que pertencem à mão da criança que os escolheu, que os resgatou do impessoal carrinho vendedor, onde são iguais a todos os outros balões. A criança, a única que dele verdadeiramente gostou, que verdadeiramente o apreciou enquanto balão, a única que o distinguiu de todos os outros balões a si (aparentemente) iguais. A criança que com ele cresceu é a única que continua a olhar para o ar em busca do seu balão que a trocou por um caminho up there, rumo ao desconhecido, à natureza, cujos elementos, por muito belos que possam parecer, são ilusórios e cruéis. O ar quente e tranquilo que junto ao solo o elevou, tornou-se frio conforme o balão subiu. Gélido. Frios e cortantes cristais formaram-se em torno do balão a partir de alguns milhares de pés de altitude, adormecendo-lhe os sentidos, fazendo-o sentir uma dormência insuportável, toldando-lhe visão e mente! Não que um balão respire, mas se quisesse, a rarefação do ar tornaria essa missão impossível. E as radiações solares rapidamente despedaçariam o pobre balão em pedaços. E em vez de um trenó, a última palavra do balão será o nome da criança. Uma Rosebud humana dos tempos modernos; demasiado leal para não desistir da sua demanda; demasiado realista para saber que jamais tornará a ver o seu balão vermelho; demasiado assustada para compreender...
E os globos de neve cair-lhe-ão da mão. Um por outro. Cidade a cidade. Memória a memória. Pessoa a pessoa. Sobrará apenas a cama vazia onde se deitou para morrer.
Lá fora o mundo segue. Indiferente.
quinta-feira, fevereiro 23, 2012
"Go West, life is peaceful there..."
O correr da vida inequivocamente ensina-nos muita coisa. O tempo, esse velho cruel, que tantos maldizem, é o garante de uma aprendizagem contínua. Sabemos sempre mais hoje do que sabíamos ontem e o amanhã trazer-nos-á umas quantas novas migalhas de sabedoria: ao fim de um ano teremos uma bela côdea para roer! Um dos erros mais comuns é querer agir no tempo passado com o conhecimento presente (“I wish that I knew what I know now... when I was younger!” Já cantava o muito sábio Rod Stewart). Aquela coisa do “se eu soubesse o que sei hoje...”. Apesar de bacoco, não deixa de ser um interessante exercício de estilo, pormo-nos numa pele alheia, ainda que por alheia considere meramente a pessoa que um dia fomos e que ficou pelo caminho, algures, fruto da ignorância de não saber o que anos mais tarde se sabe. Esse dito exercício de estilo ajuda-nos a encarar melhor o futuro: primeiro por termos a consciência da margem de manobra que nos dá a noção de que possuiremos amanhã um maior conhecimento; depois porque nos faz pensar no que fizemos, refletir sobre atos passados e só assim o passo futuro será mais forte, decidido, seguro...
Ultimamente tenho pensado muito em coisas não ditas no passado. Por ignorância do que hoje conheço, da nova sabedoria que hoje possuo e uso como ferramenta no meu dia-a-dia. Mas talvez também por uma amizade pueril que se quer pura, por muito frontais que achemos que somos. Por educação. Por me (não) pôr (demasiado) na pele dos outros. Por preguiça. Porque sou um gajo porreiro (ou pelo menos assim gosto de pensar!). A sabedoria que fui adquirindo na vida faz-me saber que a única vida que tenho verdadeiramente direito a viver é a minha. Na dos outros devo tocar de leve, torná-la mais brilhante, vivida, em tons mais clara. Mas sempre sem nunca deixar claro que lá estive, que deixei um toque pessoal – um pouco à semelhança do conservador-restaurador que intervencionou o teto da Capela Sistina: o Miguel Ângelo era o outro, ele foi apenas o veículo transmissor para que a obra renascentista ganhasse novo tom e se pudesse perpetuar no tempo, mais segura, consciente de si e do mundo que a rodeia e a venera. Ainda assim sei que por vezes, temos espaço de manobra. Podemos, por cinco minutos ou pela duração do tempo de uma conversa séria, quebrar as regras do restauro, da amizade e procurar dar o nosso cunho, procurando inverter rumos de vidas que não a nossa. Sim, diria que é isso que os amigos tendem a fazer, quebrar regras de amizade para em prol da amizade poder avançar juntos. Confuso, I guess... Até um dia muito recente sempre pensei que fazia o suficiente e quiçá mesmo, mais do que o suficiente. Pensei muitas vezes que ia longe de mais e nunca me importei com isso. Sempre achei que seria isso que me diferenciaria dos demais, que me faria melhor amigo que os outros (outra coisa que a sabedoria me foi ensinando: a amizade não é uma competição e não tem que haver “melhores amigos do que...”). Hoje vejo que não fiz o suficiente. Que talvez devesse ter encurtado distâncias para os precipícios, empurrar com mais força em direção aos abismos desta vida. Para que todos os outros pudessem dar uso às asas e voar para longe, em direção ao sonho (ao verdadeiro, não ao impingido em tons dourados, falácias dos tempos modernos, bacocos cantos de sereias-moreias sequiosas de morder em vez de beijar!). Creio que deveria ter dado pauladas em vez de direções. “Ide por ali, que o caminho é mais a direito!” sempre me soou mais belo do que “vai por ali, cabrão! [som de paulada]”; porém enfadonho e nada decisivo. Hoje percebo que tal como os burros, as pessoas só andam com vergastadas, de tão teimosas que são. Eu próprio me incluo nesse lote, ainda que tenha aberto as asas a tempo de evitar um tremendo headfall no abismo...
Um dia que hoje me parece longínquo, um certo grande amigo que tenho disse-me que me devia dar dois murros para ver se eu acordava para a vida e agarravas as coisas boas que me passavam ao largo e que diariamente perdia. Hoje tenho a certeza que lhe devia ter devolvido esses murros, porque todas as palavras foram levadas com o vento. Dois murros doem durante umas horas; uma má decisão corrói a vida inteira...
Devia ter feito um all in às coisas preciosas da vida e esperar recebê-las a dobrar, eliminando jogadores. Hoje jogo sozinho com fichas que já não são minhas...
O correr da vida inequivocamente ensina-nos muita coisa. O tempo, esse velho cruel, que tantos maldizem, é o garante de uma aprendizagem contínua. Sabemos sempre mais hoje do que sabíamos ontem e o amanhã trazer-nos-á umas quantas novas migalhas de sabedoria: ao fim de um ano teremos uma bela côdea para roer! Um dos erros mais comuns é querer agir no tempo passado com o conhecimento presente (“I wish that I knew what I know now... when I was younger!” Já cantava o muito sábio Rod Stewart). Aquela coisa do “se eu soubesse o que sei hoje...”. Apesar de bacoco, não deixa de ser um interessante exercício de estilo, pormo-nos numa pele alheia, ainda que por alheia considere meramente a pessoa que um dia fomos e que ficou pelo caminho, algures, fruto da ignorância de não saber o que anos mais tarde se sabe. Esse dito exercício de estilo ajuda-nos a encarar melhor o futuro: primeiro por termos a consciência da margem de manobra que nos dá a noção de que possuiremos amanhã um maior conhecimento; depois porque nos faz pensar no que fizemos, refletir sobre atos passados e só assim o passo futuro será mais forte, decidido, seguro...
Ultimamente tenho pensado muito em coisas não ditas no passado. Por ignorância do que hoje conheço, da nova sabedoria que hoje possuo e uso como ferramenta no meu dia-a-dia. Mas talvez também por uma amizade pueril que se quer pura, por muito frontais que achemos que somos. Por educação. Por me (não) pôr (demasiado) na pele dos outros. Por preguiça. Porque sou um gajo porreiro (ou pelo menos assim gosto de pensar!). A sabedoria que fui adquirindo na vida faz-me saber que a única vida que tenho verdadeiramente direito a viver é a minha. Na dos outros devo tocar de leve, torná-la mais brilhante, vivida, em tons mais clara. Mas sempre sem nunca deixar claro que lá estive, que deixei um toque pessoal – um pouco à semelhança do conservador-restaurador que intervencionou o teto da Capela Sistina: o Miguel Ângelo era o outro, ele foi apenas o veículo transmissor para que a obra renascentista ganhasse novo tom e se pudesse perpetuar no tempo, mais segura, consciente de si e do mundo que a rodeia e a venera. Ainda assim sei que por vezes, temos espaço de manobra. Podemos, por cinco minutos ou pela duração do tempo de uma conversa séria, quebrar as regras do restauro, da amizade e procurar dar o nosso cunho, procurando inverter rumos de vidas que não a nossa. Sim, diria que é isso que os amigos tendem a fazer, quebrar regras de amizade para em prol da amizade poder avançar juntos. Confuso, I guess... Até um dia muito recente sempre pensei que fazia o suficiente e quiçá mesmo, mais do que o suficiente. Pensei muitas vezes que ia longe de mais e nunca me importei com isso. Sempre achei que seria isso que me diferenciaria dos demais, que me faria melhor amigo que os outros (outra coisa que a sabedoria me foi ensinando: a amizade não é uma competição e não tem que haver “melhores amigos do que...”). Hoje vejo que não fiz o suficiente. Que talvez devesse ter encurtado distâncias para os precipícios, empurrar com mais força em direção aos abismos desta vida. Para que todos os outros pudessem dar uso às asas e voar para longe, em direção ao sonho (ao verdadeiro, não ao impingido em tons dourados, falácias dos tempos modernos, bacocos cantos de sereias-moreias sequiosas de morder em vez de beijar!). Creio que deveria ter dado pauladas em vez de direções. “Ide por ali, que o caminho é mais a direito!” sempre me soou mais belo do que “vai por ali, cabrão! [som de paulada]”; porém enfadonho e nada decisivo. Hoje percebo que tal como os burros, as pessoas só andam com vergastadas, de tão teimosas que são. Eu próprio me incluo nesse lote, ainda que tenha aberto as asas a tempo de evitar um tremendo headfall no abismo...
Um dia que hoje me parece longínquo, um certo grande amigo que tenho disse-me que me devia dar dois murros para ver se eu acordava para a vida e agarravas as coisas boas que me passavam ao largo e que diariamente perdia. Hoje tenho a certeza que lhe devia ter devolvido esses murros, porque todas as palavras foram levadas com o vento. Dois murros doem durante umas horas; uma má decisão corrói a vida inteira...
Devia ter feito um all in às coisas preciosas da vida e esperar recebê-las a dobrar, eliminando jogadores. Hoje jogo sozinho com fichas que já não são minhas...
sexta-feira, fevereiro 17, 2012
Réve
A unica coisa que o meu pai nunca me ensinou e a unica coisa que espero ter a certeza que ensino ao meu futuro filho é que deve perseguir os seus sonhos. Tudo o resto é acessório.
Se cada um de nós veio à terra para servir como uma parte de uma grande engrenagem e se algo em nós diz que estamos no local errado, então devemos ir em busca do nosso local perfeito, dos nosso sonhos, para a maquina poder funcionar em pleno, para comprirmos com o nosso destino.
Seguir uma vida sem emoção, sem busca é viver? É respirar um ar morto dia após dia, até nos tornarmos parte dele.
O meu pai ensinou-me muitas coisas, como pagar contas, como trabalhar bem e tomar conta da familia, mas a unica cena que ele nunca me soube ensinar foi como ter um brilho nos olhos e andar feliz, como sorrir todos os dias porque sabemos que tudo faz parte de um grande plano, como enfrentar as adversidades e vê-las como parte dos degraus a subir para a escada do sucesso
Ricardo Pascual
A unica coisa que o meu pai nunca me ensinou e a unica coisa que espero ter a certeza que ensino ao meu futuro filho é que deve perseguir os seus sonhos. Tudo o resto é acessório.
Se cada um de nós veio à terra para servir como uma parte de uma grande engrenagem e se algo em nós diz que estamos no local errado, então devemos ir em busca do nosso local perfeito, dos nosso sonhos, para a maquina poder funcionar em pleno, para comprirmos com o nosso destino.
Seguir uma vida sem emoção, sem busca é viver? É respirar um ar morto dia após dia, até nos tornarmos parte dele.
O meu pai ensinou-me muitas coisas, como pagar contas, como trabalhar bem e tomar conta da familia, mas a unica cena que ele nunca me soube ensinar foi como ter um brilho nos olhos e andar feliz, como sorrir todos os dias porque sabemos que tudo faz parte de um grande plano, como enfrentar as adversidades e vê-las como parte dos degraus a subir para a escada do sucesso
Ricardo Pascual
sexta-feira, fevereiro 10, 2012
"Volare
Era do sentimento que eu amava, nao eras tu.
A ti nao te conheco, nao te posso amar.
Amo o que sinto, o bom e o mau.
Amo o que causas em mim, a ti nao.
Amo a sensacao da droga, a droga; essa detesto-a
Intrigas-me como um elastico elançado noutro. Ficam de tal maneira juntos que é mais facil um morrer que eles se separarem. O que os une é a mesma forca que os tenta separar.
Ricardo Pascual" (05\11\2006 neste mesmo blog; num momento de lucidez que morreu numa noite escura que de tão escura que foi, não mais voltou a ser dia. Ficaram as palavras...)
Era do sentimento que eu amava, nao eras tu.
A ti nao te conheco, nao te posso amar.
Amo o que sinto, o bom e o mau.
Amo o que causas em mim, a ti nao.
Amo a sensacao da droga, a droga; essa detesto-a
Intrigas-me como um elastico elançado noutro. Ficam de tal maneira juntos que é mais facil um morrer que eles se separarem. O que os une é a mesma forca que os tenta separar.
Ricardo Pascual" (05\11\2006 neste mesmo blog; num momento de lucidez que morreu numa noite escura que de tão escura que foi, não mais voltou a ser dia. Ficaram as palavras...)
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
Facebook killed the blog star (AKA Am I fucking back?)
Passados 8 anos desde o primeiro post, que resta do blog? Da parceria que o criou? De mim? Hoje em dia a “fast food” é apenas um pequeno aspeto da “fast life” que toda a gente vive. Os 160 carateres do twitter dá para despachar a coisa, os pouco mais que 160 carateres do Facebook dão para ter uma ilusão do que é estar conetado ao mundo, chegar ao coração das centenas de amigos ilusórios que por lá temos. Alguns desses amigos nunca vimos na vida; outros deixámos de querer saber deles “lá fora”, mas ali seguimos atentamente a sua vida (“ena pá, a Josefina ficou mesmo feia, que boa que era quando éramos novos! Mas mesmo assim casou... com um gajo tão feio como ela!”). Lembro-me da excitação de um novo post por estas bandas, alguns deles elaborados ao longo de dias para que ficassem au point, para que deles se pudesse falar no meu restrito círculo de amigos durante uns minutos na seguinte saída. Causar impacto, mas principalmente refletir nas palavras e nos pensamentos a elas associadas. Hoje apercebo-me que passou demasiado tempo desde o início, mas metaforicamente ainda mais tempo desde o meu último post. Não foi só no blog. A própria vida passou a andar a um ritmo diferente, não sei bem se mais rápido ou a um ritmo assustadoramente lento. As dinâmicas alteraram-se, a vida alterou-se. No more bolos dentro do carro às tantas a olhar para um assustador panorama de betão que subitamente sob o brilho dos milhares de “luzinhas” se torna quase idílico. No more conversas entre um charuto e alguns cacahuetes, conversas com substância que nos deixavam a pensar pelos dias seguintes a dentro; conversas que sentíamos ter-nos acrescentado tanto à nossa sabedoria de humildes humanos em constante aprendizagem. (hoje não sei bem o que estamos dispostos a aprender ou se já nos achamos senhores do conhecimentos supremo, com experiência de vida suficientemente ampla para bacocamente tudo sabermos). Hoje vivemos refasteladamente com os nossos ordenados, permitimo-nos ir a restaurantes comer de bife uma porção de carne maior do que aquele que cabe num cheeseburger do Mac. Hoje os nossos carros já não têm mais de uma década (nem metade da piada). Somos homens casados (uns mais literalmente que outros), agarrados a uma vida que em certa altura deixou de ser jovem, deixou de ter a mesma piada. Hoje esforçamo-nos todos para supostamente varrer a nossa (ainda) juventude para debaixo do tapete e vestirmos o melhor fato e a menos foleira gravata para parecermos confortáveis no papel que escolhemos para nós. Para nos mostrarmos adequados à vida que escolhemos, para mostrarmos que crescemos, evoluímos, que subimos uns quantos degraus da escada. Que somos homens sérios, empresários de negócios e de vida. Mas “aquilo não é um homem, aquilo é um cogumelo!”, já diria o Principezinho na sua infindável sabedoria. Envelhecer não nos tirou todos os sonhos, mas tirou-nos as ilusões. Passámos por uma fase definidora da nossa vida e agora que essa fase acabou(?) percebemos que esgotámos alguma da juventude e principalmente algumas das oportunidades e das ilusões que tínhamos: quem não apanhou o comboio que o tivesse apanhado! Quem ficou apeado na estação que se atire para debaixo do próximo! Ou que fique sentado no banco do cais o resto da vida à espera da vida que passou. Não que eu tivesse vivido no tempo certo (creio que sou mais jovem hoje do que há uma década atrás), mas olhando em redor vejo jovens velhos, demasiado acomodados com o que a vida lhe trouxe. Esses jovens foram em tempos a locomotiva do comboio que dentro, confortavelmente me levava. A locomotiva que me locomovia. Hoje o comboio parou numa agradável garagem de uma agradável estação do novo-riquismo. Hoje fumo um charuto numa chaise-longue do hotel dessa estação com vista para o infinito a partir da janela. E no meio do comodismo inebriante, sinto terrivelmente a falta do balanço do comboio em movimento, de todas as novas paragens que pude ver nas minhas muitas viagens. O queijo e o vinho que me servem, no hotel, a cada novo banquete, não é muito melhor que a massa-com-qualquer-coisa (serious, qualquer-coisa! Just pick whatever you want, it will be perfect, fucking tasteful!) que me serviam no comboio antes do início de nova viagem. E eu ingenuamente pensei que iria viajar para sempre. Que para sempre me levariam a ver novos lugares, conhecer novas pessoas. E hoje se quero viajar, se me quero locomover tenho que ir à receção do hotel pedir ao camareiro para me pedir um táxi. E lá vou eu e um taxista desconhecido rumo a um algures que nunca será muito distante. O comboio cansou-se de percorrer novos trilhos, hoje limita-se a sair da estação para ir à oficina mais próxima. Depois volta cansado porque sente que já ter viajado muito na vida lhe dá o direito de descansar ad eternum e ver a vida passar lá fora. Como o desportista de sofá que se cansa só de ver os jogadores da bola na televisão. Oh whatever, talvez eu até acredite que todos nós tenhamos noção disto. Que no fundo acreditemos em cada uma destas palavras e que todas elas nos assombrem diariamente. Mas somos homens crescidos, com deveres auto-impostos! And big boys don’t cry! Um dia destes acordaremos mortos numa qualquer cama de um qualquer hotel com uma overdose de tédio e talvez no último suspiro toda a vida nos passe, uma última vez, pelos olhos. Então aí esticar debilmente o braço de nada valerá – não a conseguiremos tocar, apanhar o vertiginoso ritmo do dia que já foi e não mais volta. O braço rapidamente ficará flácido e cair-nos-á sobre o peito, esperando pelas flores que nos atiraram chorosos pelo homem que foi. Creio que prefiro chorar em vida pelas perdas sofridas, cada homem que caiu no campo de batalha, trespassado pelo bala do horário de trabalho rígido, da nova vida familiar, dos programas de quinta à noite passado à frente da tv, das sextas feiras em que nos deitamos cedo porque estamos cansados da semana de trabalho ou da bala da vida conforme, vivida sobre rígidas regras auto-impostas, a vida que criticámos aos da geração anterior e que jurámos que iríamos ser diferentes, o oposto, jovens para todo o sempre, ámen! Não sei bem em que momento isso aconteceu, mas acho que um dia destes acabámos por foder tudo. E que, algures a meio acordámos e percebemos que a única forma de pôr tudo em ordem, de nos ouvirem é através do silêncio das palavras escritas num velho e poeirento blog criado nos tempos áureos. Um retorno às origens mesmo que lá fora não esteja uma locomotiva Clio ou uma locomotiva 106 dispostas a levar-nos aos confins do mundo – e sim, na altura o mundo era pequeno o suficiente para acabar no Barreiro ou em Caneças ou algures em jantaradas numa minúscula casa ali para os lados do Marquês. E a cada nova conversa, novo post, juraremos que vamos voltar a ser jovens, pegar no freio da locomotiva e partir inconscientemente rumo ao infinito. Mas dez minutos depois, arranjaremos 1001 desculpas para não sair de casa (“está tão quentinho aqui!”). 1001 desculpas para convencer os demais que ficar é melhor que partir, que o disco não está riscado, o gira-discos é que está velho e cansado! E chegamos ao ponto em que nos iremos vangloriar de cada vez que os conseguimos convencer a ficar – em tempo a vitória era partir! Mas um dia voltaremos a estar lúcidos por 15 minutos e a ânsia de partir voltará. E vamos montando uma vida paralela em torno dessa ânsia, a única coisa que nos consegue manter quentes. E nos tempos mortos da noite, às voltas por uma qualquer divisão da casa, montamos essa vida paralela com um conjunto de arrepiantes pormenores (arrepiantes de tão reais nos parecem!) e pela primeira vez em muito tempo tudo faz sentido! E prometemos a nós próprios tornar esse mundo real, um dia destes! Sim, vou partir rumo ao desconhecido! Sim, vou-me tornar jovem de novo! Sim, atrevo-me a sonhar! Atrevo-me a tornar o sonho em realidade! E com o coração saltando do peito de excitação, fruto de um plano feito, traçado milimetricamente, uma nova vida gizada, voltamos para a cama desejando secretamente que o dia seguinte venha depressa porque não há tempo a perder, um novo mundo começa amanhã!! Mas o corpo quente que nos recebe debaixo dos lençóis torna-nos moles, inebria-nos, envolve-nos num abraço mortal e no momento seguinte voltámos a ser autómatos com a certeza de que aquele corpo é o nosso maior tesouro. E que jamais nos deixaremos de deitar naquela cama quente e enroscarmo-nos de encontro aquele ser-puppeteer, qual Síndrome de Estocolmo...
Passados 8 anos desde o primeiro post, que resta do blog? Da parceria que o criou? De mim? Hoje em dia a “fast food” é apenas um pequeno aspeto da “fast life” que toda a gente vive. Os 160 carateres do twitter dá para despachar a coisa, os pouco mais que 160 carateres do Facebook dão para ter uma ilusão do que é estar conetado ao mundo, chegar ao coração das centenas de amigos ilusórios que por lá temos. Alguns desses amigos nunca vimos na vida; outros deixámos de querer saber deles “lá fora”, mas ali seguimos atentamente a sua vida (“ena pá, a Josefina ficou mesmo feia, que boa que era quando éramos novos! Mas mesmo assim casou... com um gajo tão feio como ela!”). Lembro-me da excitação de um novo post por estas bandas, alguns deles elaborados ao longo de dias para que ficassem au point, para que deles se pudesse falar no meu restrito círculo de amigos durante uns minutos na seguinte saída. Causar impacto, mas principalmente refletir nas palavras e nos pensamentos a elas associadas. Hoje apercebo-me que passou demasiado tempo desde o início, mas metaforicamente ainda mais tempo desde o meu último post. Não foi só no blog. A própria vida passou a andar a um ritmo diferente, não sei bem se mais rápido ou a um ritmo assustadoramente lento. As dinâmicas alteraram-se, a vida alterou-se. No more bolos dentro do carro às tantas a olhar para um assustador panorama de betão que subitamente sob o brilho dos milhares de “luzinhas” se torna quase idílico. No more conversas entre um charuto e alguns cacahuetes, conversas com substância que nos deixavam a pensar pelos dias seguintes a dentro; conversas que sentíamos ter-nos acrescentado tanto à nossa sabedoria de humildes humanos em constante aprendizagem. (hoje não sei bem o que estamos dispostos a aprender ou se já nos achamos senhores do conhecimentos supremo, com experiência de vida suficientemente ampla para bacocamente tudo sabermos). Hoje vivemos refasteladamente com os nossos ordenados, permitimo-nos ir a restaurantes comer de bife uma porção de carne maior do que aquele que cabe num cheeseburger do Mac. Hoje os nossos carros já não têm mais de uma década (nem metade da piada). Somos homens casados (uns mais literalmente que outros), agarrados a uma vida que em certa altura deixou de ser jovem, deixou de ter a mesma piada. Hoje esforçamo-nos todos para supostamente varrer a nossa (ainda) juventude para debaixo do tapete e vestirmos o melhor fato e a menos foleira gravata para parecermos confortáveis no papel que escolhemos para nós. Para nos mostrarmos adequados à vida que escolhemos, para mostrarmos que crescemos, evoluímos, que subimos uns quantos degraus da escada. Que somos homens sérios, empresários de negócios e de vida. Mas “aquilo não é um homem, aquilo é um cogumelo!”, já diria o Principezinho na sua infindável sabedoria. Envelhecer não nos tirou todos os sonhos, mas tirou-nos as ilusões. Passámos por uma fase definidora da nossa vida e agora que essa fase acabou(?) percebemos que esgotámos alguma da juventude e principalmente algumas das oportunidades e das ilusões que tínhamos: quem não apanhou o comboio que o tivesse apanhado! Quem ficou apeado na estação que se atire para debaixo do próximo! Ou que fique sentado no banco do cais o resto da vida à espera da vida que passou. Não que eu tivesse vivido no tempo certo (creio que sou mais jovem hoje do que há uma década atrás), mas olhando em redor vejo jovens velhos, demasiado acomodados com o que a vida lhe trouxe. Esses jovens foram em tempos a locomotiva do comboio que dentro, confortavelmente me levava. A locomotiva que me locomovia. Hoje o comboio parou numa agradável garagem de uma agradável estação do novo-riquismo. Hoje fumo um charuto numa chaise-longue do hotel dessa estação com vista para o infinito a partir da janela. E no meio do comodismo inebriante, sinto terrivelmente a falta do balanço do comboio em movimento, de todas as novas paragens que pude ver nas minhas muitas viagens. O queijo e o vinho que me servem, no hotel, a cada novo banquete, não é muito melhor que a massa-com-qualquer-coisa (serious, qualquer-coisa! Just pick whatever you want, it will be perfect, fucking tasteful!) que me serviam no comboio antes do início de nova viagem. E eu ingenuamente pensei que iria viajar para sempre. Que para sempre me levariam a ver novos lugares, conhecer novas pessoas. E hoje se quero viajar, se me quero locomover tenho que ir à receção do hotel pedir ao camareiro para me pedir um táxi. E lá vou eu e um taxista desconhecido rumo a um algures que nunca será muito distante. O comboio cansou-se de percorrer novos trilhos, hoje limita-se a sair da estação para ir à oficina mais próxima. Depois volta cansado porque sente que já ter viajado muito na vida lhe dá o direito de descansar ad eternum e ver a vida passar lá fora. Como o desportista de sofá que se cansa só de ver os jogadores da bola na televisão. Oh whatever, talvez eu até acredite que todos nós tenhamos noção disto. Que no fundo acreditemos em cada uma destas palavras e que todas elas nos assombrem diariamente. Mas somos homens crescidos, com deveres auto-impostos! And big boys don’t cry! Um dia destes acordaremos mortos numa qualquer cama de um qualquer hotel com uma overdose de tédio e talvez no último suspiro toda a vida nos passe, uma última vez, pelos olhos. Então aí esticar debilmente o braço de nada valerá – não a conseguiremos tocar, apanhar o vertiginoso ritmo do dia que já foi e não mais volta. O braço rapidamente ficará flácido e cair-nos-á sobre o peito, esperando pelas flores que nos atiraram chorosos pelo homem que foi. Creio que prefiro chorar em vida pelas perdas sofridas, cada homem que caiu no campo de batalha, trespassado pelo bala do horário de trabalho rígido, da nova vida familiar, dos programas de quinta à noite passado à frente da tv, das sextas feiras em que nos deitamos cedo porque estamos cansados da semana de trabalho ou da bala da vida conforme, vivida sobre rígidas regras auto-impostas, a vida que criticámos aos da geração anterior e que jurámos que iríamos ser diferentes, o oposto, jovens para todo o sempre, ámen! Não sei bem em que momento isso aconteceu, mas acho que um dia destes acabámos por foder tudo. E que, algures a meio acordámos e percebemos que a única forma de pôr tudo em ordem, de nos ouvirem é através do silêncio das palavras escritas num velho e poeirento blog criado nos tempos áureos. Um retorno às origens mesmo que lá fora não esteja uma locomotiva Clio ou uma locomotiva 106 dispostas a levar-nos aos confins do mundo – e sim, na altura o mundo era pequeno o suficiente para acabar no Barreiro ou em Caneças ou algures em jantaradas numa minúscula casa ali para os lados do Marquês. E a cada nova conversa, novo post, juraremos que vamos voltar a ser jovens, pegar no freio da locomotiva e partir inconscientemente rumo ao infinito. Mas dez minutos depois, arranjaremos 1001 desculpas para não sair de casa (“está tão quentinho aqui!”). 1001 desculpas para convencer os demais que ficar é melhor que partir, que o disco não está riscado, o gira-discos é que está velho e cansado! E chegamos ao ponto em que nos iremos vangloriar de cada vez que os conseguimos convencer a ficar – em tempo a vitória era partir! Mas um dia voltaremos a estar lúcidos por 15 minutos e a ânsia de partir voltará. E vamos montando uma vida paralela em torno dessa ânsia, a única coisa que nos consegue manter quentes. E nos tempos mortos da noite, às voltas por uma qualquer divisão da casa, montamos essa vida paralela com um conjunto de arrepiantes pormenores (arrepiantes de tão reais nos parecem!) e pela primeira vez em muito tempo tudo faz sentido! E prometemos a nós próprios tornar esse mundo real, um dia destes! Sim, vou partir rumo ao desconhecido! Sim, vou-me tornar jovem de novo! Sim, atrevo-me a sonhar! Atrevo-me a tornar o sonho em realidade! E com o coração saltando do peito de excitação, fruto de um plano feito, traçado milimetricamente, uma nova vida gizada, voltamos para a cama desejando secretamente que o dia seguinte venha depressa porque não há tempo a perder, um novo mundo começa amanhã!! Mas o corpo quente que nos recebe debaixo dos lençóis torna-nos moles, inebria-nos, envolve-nos num abraço mortal e no momento seguinte voltámos a ser autómatos com a certeza de que aquele corpo é o nosso maior tesouro. E que jamais nos deixaremos de deitar naquela cama quente e enroscarmo-nos de encontro aquele ser-puppeteer, qual Síndrome de Estocolmo...
quarta-feira, janeiro 11, 2012
6 anos
Em 6 anos:
Levei os meus ténis com sola amarela a dar um volta por: Espanha, França,Alemanha, Bélgica, Inglaterra,Holanda,Itália,Dinamarca e mais uns quantos e depois fui para o outro lado do atlantico a ver a que sabia a coca cola.
Tirei fotos em todos os locais para o fazer
Bebi muito pouco
Comi muitos gelados
Aprendi que toda a gente tem uma história para contar
Fiquei mais triste
Comecei a ser adulto
Conheci muitas mulheres, mas encontrei só uma e casei-me com ela
Fiz um amigo com quem não falo quase nada hoje em dia
Descobri que a coca-cola não sabe toda ao mesmo
Descobri que o macdonalds só é mau na madeira
Assisti ao maior espectáculo do mundo várias vezes
Almocei e jantei mais vezes sozinho que sempre
Comecei a passar mais tempo sozinho
Fiquei distante
Fiquei longe
Mudei a minha maneira de pensar e fiquei mais humilde
Li mais livros
Vi mais televisão
Vi mais porno
Fiquei tonto com a rotação da terra
Fiquei tonto com a ideia da rotação da terra
Descobri que sou humano
Descobri que por vezes não se pode falhar
Ouvi muita musica
Conheci muitas pessoas em 1 minuto
Fui ao atlantico, pacifico, indico e med no mesmo ano
Vi como eramos em Africa e o que ficou pelo mundo
Fiquei mais pobre
Fiquei mais rico
Passei a ter medo
Passei a arriscar menos
Passei a arriscar tudo
Tive coragem, frio, fome
Fiquei vazio e sem sentido
Fiquei perdido
Fiquei sozinho
Encontrei-me em mil espelhos de mil quartos
Estive mais tempo no ar que o super-homem em todos os seus filmes
Falei muitas linguas, estraguei outras tantas
Comi comida diferente
Comi a mesma comida
Mudei mil vezes e mil vezes mais e deixei de saber quem era só para me encontrar em frente do espelho.
Ganhei menos história para contar que aquela que imaginava.
Perdi imaginação
Vi a raça humana
Vi o mundo
Fui à varanda da terra tomar ar e olhei para baixo para nós
Senti falta dos amigos
Escrevi menos
Tentei fazer muita coisa;
Um filme
Uma saída
Um homem novo,
Mas falhei
Recebi do mundo mais que agora consigo processar,
Ri
Vi mais coisas que muitos, mas no final do dia, escrevo da mesma maneira como os que nada viram durante o mesmo tempo.
Rodeios, voltinhas e trocas foram muitas
E...
Descobri que a Oprah no seu ultimo programa teve mais sabedoria que toda aquele que encontrei .
Ricardo Pascual
Em 6 anos:
Levei os meus ténis com sola amarela a dar um volta por: Espanha, França,Alemanha, Bélgica, Inglaterra,Holanda,Itália,Dinamarca e mais uns quantos e depois fui para o outro lado do atlantico a ver a que sabia a coca cola.
Tirei fotos em todos os locais para o fazer
Bebi muito pouco
Comi muitos gelados
Aprendi que toda a gente tem uma história para contar
Fiquei mais triste
Comecei a ser adulto
Conheci muitas mulheres, mas encontrei só uma e casei-me com ela
Fiz um amigo com quem não falo quase nada hoje em dia
Descobri que a coca-cola não sabe toda ao mesmo
Descobri que o macdonalds só é mau na madeira
Assisti ao maior espectáculo do mundo várias vezes
Almocei e jantei mais vezes sozinho que sempre
Comecei a passar mais tempo sozinho
Fiquei distante
Fiquei longe
Mudei a minha maneira de pensar e fiquei mais humilde
Li mais livros
Vi mais televisão
Vi mais porno
Fiquei tonto com a rotação da terra
Fiquei tonto com a ideia da rotação da terra
Descobri que sou humano
Descobri que por vezes não se pode falhar
Ouvi muita musica
Conheci muitas pessoas em 1 minuto
Fui ao atlantico, pacifico, indico e med no mesmo ano
Vi como eramos em Africa e o que ficou pelo mundo
Fiquei mais pobre
Fiquei mais rico
Passei a ter medo
Passei a arriscar menos
Passei a arriscar tudo
Tive coragem, frio, fome
Fiquei vazio e sem sentido
Fiquei perdido
Fiquei sozinho
Encontrei-me em mil espelhos de mil quartos
Estive mais tempo no ar que o super-homem em todos os seus filmes
Falei muitas linguas, estraguei outras tantas
Comi comida diferente
Comi a mesma comida
Mudei mil vezes e mil vezes mais e deixei de saber quem era só para me encontrar em frente do espelho.
Ganhei menos história para contar que aquela que imaginava.
Perdi imaginação
Vi a raça humana
Vi o mundo
Fui à varanda da terra tomar ar e olhei para baixo para nós
Senti falta dos amigos
Escrevi menos
Tentei fazer muita coisa;
Um filme
Uma saída
Um homem novo,
Mas falhei
Recebi do mundo mais que agora consigo processar,
Ri
Vi mais coisas que muitos, mas no final do dia, escrevo da mesma maneira como os que nada viram durante o mesmo tempo.
Rodeios, voltinhas e trocas foram muitas
E...
Descobri que a Oprah no seu ultimo programa teve mais sabedoria que toda aquele que encontrei .
Ricardo Pascual
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