O Macaquinho. Que não vê. Que não ouve. Que não fala.
Ao longo da vida fazemos acordos tácitos. Com o mundo, com os outros, com nós próprios. Calamos coisas por amor. Por amizade. Por educação. Deixamos os outros viverem as suas próprias vidas só porque achamos que eles têm direito a isso, que não é nada connosco, que temos o dever de os deixar viver como querem. Atiramos para o ar um “quem em boa cama fizer, nela se deitará”, jogamos as mãos para o fundo dos bolsos e assobiamos a nossa alegria por levarmos uma vida infinitamente diferente. No Natal um bom vinho ou um saca-rolhas em prata mostrará a nossa amizade e a gratidão dos demais por sermos homens adultos, daqueles que calam e consentem. Um acordo tácito lacrado com um pingo de tinto no papel timbrado que envolve o queijo amanteigado de boa qualidade!
Por vezes a ideia assalta-nos, dá-nos suores frios de noite, como se de um pesadelo bem real se tratasse. Um grito que nos ecoa na mente, um “não faças!” ou um “não vás!” ou mesmo um mais radical “deixa-a ir!”. Uma mão que realmente agarra um braço, um dedo que mostra um caminho, uma conversa que suaviza almas atormentadas (o tal “all in às coisas boas da vida”). Às vezes sonho de noite, e sonhando concretizo-o. Ajo. Em vez de ficar calado a negar a minha pacatez noturna quando no fundo do meu ser quero explodir e alguém que venha limpar os destroços e montar tudo de novo! Sigo calado. E sei que um dia alguém me recriminará por não ter falado a tempo, ainda que esse alguém nunca tenha criado minimamente as condições para que esse passo não seja dado em falso. Um alguém que está demasiado iludido com um espetáculo bacoco de luz e cor, um alguém que está demasiado sequioso de aprovação, um alguém que na maioria das vezes não está minimamente disponível para ouvir uma opinião diferente porque a sua vida depende quase literalmente do “sim” que os demais continuam a dar. E então vou-me calando, reservado ao fundo do banco de um carro que me leva para caminhos em tempos tão comuns que se tornaram subitamente tão desconhecidos como uma nova estrada que se faz a medo. Um passado que se deixa para trás, um futuro que não desejo mas que me impõem. Um jogo que se deixa a meio, uma água dentro de um copo que vibra a cada novo pequeno terramoto. Uma tempestade num copo de água. Um farewell-até-à-próxima que não se diz porque nada à volta importa. E o nada à volta também não se importa com o farewell-até-à-próxima que não se diz. Porque nada mais importa, porque o campo está demasiado seco depois de um inverno onde do céu caiu menos água do que aquela que ficou propositadamente esquecida dentro do copo de água. E porque só uma chuva torrencial que varra todo o mal pode voltar a dar à cidade o ar limpo que em tempos teve. E ao campo o tom verdejante pelo qual apetece correr rumo ao infinito. E a cada novo copo de água juro a mim próprio que no dia seguinte abrirei uma brecha no solo capaz de engolir civilizações, que serei responsável pela queda de qualquer império romano dos tempos modernos, ao ponto de, envergonhado, o sol passar a nascer no frio Alaska e se por na quente Pérsia. Via Lisboa. E no dia seguinte tomará o caminho inverso, dando e tirando mundos ao mundo. Até lá, metaforizo em letras o que a minha boca não ousa dizer. Por amizade. Por educação.
E os charutos continuam semi-esquecidos no fundo do bolso do casaco à espera de melhores dias.
sexta-feira, março 09, 2012
The Ark "It Takes a Fool to Remain Sane"
"Whatever happened to the funky race?
A generation lost in pace
Wasn't life supposed to be more than this?
In this kiss, I'll change your bore for my bliss
Let go of my hand and it will slip out
In the sand if you don't give me the chance
To break down the walls of attitude
I ask nothing of you
Not even your gratitude
And if you think I'm corny
Then it will not make me sorry
It's your right to laugh at me
And in turn, that's my opportunity
To feel brave
Because ridicule is no shame
Oh it's just a way to eclipse hate
It's just a way to put my back straight
Oh it's just a way to remain sane
Every morning I would see her getting off the bus
The picture never drops it's like a multicoloured snapshot
Stuck in my brain it kept me sane
For a couple of years as it drenched my fears
Of becoming like the others
Who become unhappy mothers
And fathers of unhappy kids
And why is that?
'Cause they've forgotten how to play
Or maybe they're afraid to feel ashamed
To seem strange, to seem insane
To gain weight, to seem gay
I tell you this:
That it takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh In this world all covered up in shame..."
"Whatever happened to the funky race?
A generation lost in pace
Wasn't life supposed to be more than this?
In this kiss, I'll change your bore for my bliss
Let go of my hand and it will slip out
In the sand if you don't give me the chance
To break down the walls of attitude
I ask nothing of you
Not even your gratitude
And if you think I'm corny
Then it will not make me sorry
It's your right to laugh at me
And in turn, that's my opportunity
To feel brave
Because ridicule is no shame
Oh it's just a way to eclipse hate
It's just a way to put my back straight
Oh it's just a way to remain sane
Every morning I would see her getting off the bus
The picture never drops it's like a multicoloured snapshot
Stuck in my brain it kept me sane
For a couple of years as it drenched my fears
Of becoming like the others
Who become unhappy mothers
And fathers of unhappy kids
And why is that?
'Cause they've forgotten how to play
Or maybe they're afraid to feel ashamed
To seem strange, to seem insane
To gain weight, to seem gay
I tell you this:
That it takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh It takes a fool to remain sane
Oh In this world all covered up in shame..."
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